Faltando cinco minutos para começar o espetáculo, soa o segundo sinal. O elenco reúne-se nos bastidores e espera para entrar em cena. Cássio e Iago, devidamente caracterizados, conversam em um canto. Soa o terceiro sinal e a peça tem início. Após a cena inicial de Iago e Rodrigo, o contra-rega dirige-se ao camarim de Desdêmona. Batidas surdas na porta são seguidas de silêncio. O contra-regra chama, sem resposta. Abre a porta e encontra, tombada de lado, a cadeira vazia com a inscrição no encosto: Fê Meirelles.
Desaparecida desde 27 de setembro, a estrela do teatro paulistano foi vista pela última vez maquiando-se para representar novamente o papel que alçou-a ao estrelato. Segundo Marcella Rica, que interpreta Emilia, nada de incomum aconteceu: “Eu entrei no camarim e ela já estava lá. Sentei na minha cadeira e comecei a abrir a caixa de maquiagem quando começamos a conversar. Ela não disse nada fora do normal, nada que pudesse indicar o que aconteceu. Quando terminei, guardei minhas coisas e encostei minha cadeira. Ela estava muito bem quando saí para encontrar o resto do elenco nas coxias. Estava até calma demais.”
Já o diretor Marcus Alvisi conta que ele e Fernanda discutiram seriamente na véspera. “Nós havíamos acabado de ensaiar a cena final quando ela veio conversar comigo. Disse que estava cansada dos atritos com partes do elenco, que não estava conseguindo lidar com isso. Eu disse que não havia o que fazer, que ela tinha que se controlar e que tinha toda a experiência de anos de carreira para ajudá-la. Então ela simplesmente se descontrolou, o que não é nada normal. Ela sempre foi uma pessoa centrada, nunca deixou transparecer nada. Sem dúvida, é a atriz mais profissional e talentosa com quem já trabalhei”, completa o diretor, que já realizou montagens em parceria com lendas do teatro, como Denise Fraga, e Fernanda Montenegro. “Ela era muito modesta. Não sabia – ou não aceitava – o fato de ser muito melhor do que sua mentora, Fernanda Montenegro”, conclui, referindo-se a Meirelles no pretérito imperfeito.
A parceria de Fê Meirelles com sua axará começou em 2008, depois da morte de Fernando Torres, o marido de Fernanda Montenegro. O ator, que morreu de enfisema pulmonar em sua casa em Ipanema, no Rio de Janeiro, foi cremado, não havendo velório. Fê Meirelles, então no Rio para cinco apresentações de “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, dirigiu-se à casa de Fernanda Montenegro para oferecer seus pêsames. A atriz veterana descreve o encontro: “A Fé é encantadora. Ela chegou e tocou a minha campainha. Quando abri a porta ela timidamente se apresentou como atriz e admiradora e me ofereceu seus pêsames. Eu precisava urgentemente de alguém com quem conversar e tivemos uma empatia imediata. Ela se sentou e comecei a desabafar com ela, como se já a conhecesse há muito tempo. A certa altura, me descontrolei e comecei a chorar. A Fê me consolou e dirigiu-se à minha cozinha, como se estivesse em casa. Abriu os armários até encontrar uma chaleira e a caixa de chá de camomila. Encheu a chaleira, esperou a água ferver e pegou uma xícara do armário. Quando ela voltou à sala, com o chá, vi que ela tinha pegado a xícara que o Fernando me deu no nosso primeiro aniversário de casamento. Foi tudo o que eu precisei para me convencer de que ela era especial”. Após cinco anos de uma pareceria de sucesso, Meirelles estreou sua primeira grande peça, “A Senhora dos Afogados”, de Nelson Rodrigues. Recebida muito bem pela crítica, a jovem atriz usou da peça seu trampolim para o sucesso e nunca mais deixou de subir.
As duas semanas do desaparecimento de Fê Meirelles já foram o bastante para que muitos boatos surgissem sobre a atriz, que sempre gozou de uma vida pessoal reservada. Fofocas de fãs-clubes especulam sobre o possível envolvimento do ex-marido da atriz, o colega de profissão Wagner Moura. Filósofos defendem a tese de Fê ter fugido para a Espanha, encantada pelo magnetismo do quadro “Las Meninas”, de Velásquez, e antropólogos debatem a possibilidade de a atriz ter largado sua vida de conforto na metrópole e, em um ataque de (neo)neo-arcadismo, emigrado para o seio de uma tribo Bororo, no norte do país. A verdade é que ninguém sabe o paradeiro de Fê Meirelles, a não ser, talvez, por alguns caciques, pajés e vigias de museus em Madri.
Desaparecida desde 27 de setembro, a estrela do teatro paulistano foi vista pela última vez maquiando-se para representar novamente o papel que alçou-a ao estrelato. Segundo Marcella Rica, que interpreta Emilia, nada de incomum aconteceu: “Eu entrei no camarim e ela já estava lá. Sentei na minha cadeira e comecei a abrir a caixa de maquiagem quando começamos a conversar. Ela não disse nada fora do normal, nada que pudesse indicar o que aconteceu. Quando terminei, guardei minhas coisas e encostei minha cadeira. Ela estava muito bem quando saí para encontrar o resto do elenco nas coxias. Estava até calma demais.”
Já o diretor Marcus Alvisi conta que ele e Fernanda discutiram seriamente na véspera. “Nós havíamos acabado de ensaiar a cena final quando ela veio conversar comigo. Disse que estava cansada dos atritos com partes do elenco, que não estava conseguindo lidar com isso. Eu disse que não havia o que fazer, que ela tinha que se controlar e que tinha toda a experiência de anos de carreira para ajudá-la. Então ela simplesmente se descontrolou, o que não é nada normal. Ela sempre foi uma pessoa centrada, nunca deixou transparecer nada. Sem dúvida, é a atriz mais profissional e talentosa com quem já trabalhei”, completa o diretor, que já realizou montagens em parceria com lendas do teatro, como Denise Fraga, e Fernanda Montenegro. “Ela era muito modesta. Não sabia – ou não aceitava – o fato de ser muito melhor do que sua mentora, Fernanda Montenegro”, conclui, referindo-se a Meirelles no pretérito imperfeito.
A parceria de Fê Meirelles com sua axará começou em 2008, depois da morte de Fernando Torres, o marido de Fernanda Montenegro. O ator, que morreu de enfisema pulmonar em sua casa em Ipanema, no Rio de Janeiro, foi cremado, não havendo velório. Fê Meirelles, então no Rio para cinco apresentações de “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, dirigiu-se à casa de Fernanda Montenegro para oferecer seus pêsames. A atriz veterana descreve o encontro: “A Fé é encantadora. Ela chegou e tocou a minha campainha. Quando abri a porta ela timidamente se apresentou como atriz e admiradora e me ofereceu seus pêsames. Eu precisava urgentemente de alguém com quem conversar e tivemos uma empatia imediata. Ela se sentou e comecei a desabafar com ela, como se já a conhecesse há muito tempo. A certa altura, me descontrolei e comecei a chorar. A Fê me consolou e dirigiu-se à minha cozinha, como se estivesse em casa. Abriu os armários até encontrar uma chaleira e a caixa de chá de camomila. Encheu a chaleira, esperou a água ferver e pegou uma xícara do armário. Quando ela voltou à sala, com o chá, vi que ela tinha pegado a xícara que o Fernando me deu no nosso primeiro aniversário de casamento. Foi tudo o que eu precisei para me convencer de que ela era especial”. Após cinco anos de uma pareceria de sucesso, Meirelles estreou sua primeira grande peça, “A Senhora dos Afogados”, de Nelson Rodrigues. Recebida muito bem pela crítica, a jovem atriz usou da peça seu trampolim para o sucesso e nunca mais deixou de subir.
As duas semanas do desaparecimento de Fê Meirelles já foram o bastante para que muitos boatos surgissem sobre a atriz, que sempre gozou de uma vida pessoal reservada. Fofocas de fãs-clubes especulam sobre o possível envolvimento do ex-marido da atriz, o colega de profissão Wagner Moura. Filósofos defendem a tese de Fê ter fugido para a Espanha, encantada pelo magnetismo do quadro “Las Meninas”, de Velásquez, e antropólogos debatem a possibilidade de a atriz ter largado sua vida de conforto na metrópole e, em um ataque de (neo)neo-arcadismo, emigrado para o seio de uma tribo Bororo, no norte do país. A verdade é que ninguém sabe o paradeiro de Fê Meirelles, a não ser, talvez, por alguns caciques, pajés e vigias de museus em Madri.
Um comentário:
eu tô aqui, oras!
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