4 de setembro de 2008

Confissões de uma barista perigosa


De grão em grão (de café) a barista enche o papo.

Equilibrando seu iphone e um copo de café, a barista chega esboçando seu constante sorriso de trás de seus grandes olhos castanhos. Mariana Senrra, a barista da Starbucks da Alameda Santos, que toma café frio desde criança, conta como é trabalhar na cafeteria que está roubando a cena paulistana e revela: mais nove lojas serão abertas ate o final de 2008, três delas nos arredores da loja 007, na mais paulista das avenidas.

Como você veio trabalhar na Starbucks?
A minha amiga Evelyn tinha visto no jornal um anúncio “venha trabalhar na Starbucks”. Como ela sabe que eu sou atrasada, me disse que a entrevista era até as dez da manhã (era até as cinco horas da tarde). Nós duas fizemos a primeira entrevista – com o Luiz e a Renata – e depois, conforme a pessoa ia passando, eles iam telefonando e chamando, então acabei passando por mais duas pessoas.
Depois nós fizemos um exame bem vergonhoso, cada um com o seu potinho. E foi horrível porque nós estávamos todos na mesma sala, olhando um para o outro e pensando “eu sei que você tem um potinho desse na sua mala”. Mas foi isso, foram três entrevistas. Mas que critério usaram, eu não sei. Afinal, eu estou aqui.

E na época você estava procurando alguma coisa ou foi por acaso?
Foi meio coincidência. Porque na época, eu e ela [Evelyn] estávamos procurando emprego e ela tinha conseguido na escola dela, porque a diretora tinha um filho que era gerente de uma cafeteria por aí, e a gente já tava garantida lá. Só que ela leu de última hora no jornal. Eu nem sabia que tinha Starbucks em São Paulo – pra você ver como eu sou ligada. Eu só sabia de nome, sabia o que era, mas nunca tinha vindo.

E você veio fazer entrevista para essa loja?
A entrevista era aqui, mas, na verdade, era pra loja da Faria Lima. Mas a Renata perguntou qual era a melhor pra mim e eu falei do começo ao fim “A Paulista é mais perto, a Paulista é mais perto”.

Como funciona a “hierarquia” da Starbucks?
No sentido de conhecimento você primeiro se forma como barista; depois você faz o coffee explorer, que é o iniciante, depois o specialist, que tem o pin mais bonitinho; e aí, por úiltimo, o coffee master - só quem tem avental preto é coffee master.

E a gente tem a impressão de que é normal extrapolar a relação com os clientes e o relacionamento não ficar só aqui, o cliente deixar de ser só cliente. É normal mesmo?
É. E pode, pode fazer isso. O que não pode é eu estar de avental no balcão batendo papo com você, no mínimo porque eu estou trabalhando. Mas eles inclusive incentivam que você faça amizade com os clientes. Não é nem pela idéia de “ah, ele é meu amigo, ele vai trazer mais dinheiro pra loja”; tudo bem, tem a idéia “ele é meu amigo, então ele vai contar pros amigos como foi bem atendido”, mas é sempre porque ele vai passar a experiência Starbucks.
Outro dia veio um cliente querendo comprar 25 expressos, em forma de vales, que ele queria distribuir na aula pros alunos, porque tudo o que está descrito no livro do Howard Schults [um dos criadores e gerente geral da Starbucks] ele sentiu aqui.

E a diferença entre os níveis de barista e coffee master é de conhecimento?
Só de conhecimento. De profissional, que ganhe mais, etc, são outros. São barista; coordenador, que quando chega vai definir o que cada um vai fazer durante o dia, cada posição que cada um tem e vai mexer com as cosias administrativas; acima do coordenador, tem o assistente de gerente, que tem bem mais responsabilidades – praticamente tudo o que o gerente faz, mas ele mais assiste mesmo o gerente; tem o gerente da loja, que é o manda-chuva da loja; acima do gerente, já são umas partes mais ausentes, são os gerentes de distrito, cada um com oito lojas.

E a rotina de vocês é meio fluente? Vocês nunca parecem estar sempre no mesmo lugar.
O intuito não é fazer uma fabriquinha, não dá pra ficar como no Tempos Modernos. Nunca tem exatamente uma posição fixa. A gente coloca sempre duas posições por dia, uma antes do intervalo uma depois e, de preferência, opostas. Por exemplo, se você está no bar quente de manhã, vou evitar de te colocar no frapuccino depois.

E os horários de vocês são meio flutuantes, né? Dá pra conciliar com alguma outra coisa, com faculdade, por exemplo?
A gente divide um pouco os períodos. Eu, de umas semanas pra cá, por exemplo, só tenho feito abertura. Uma vez por semana, mais ou menos que eu faço um horário que não é tão abertura.
Quando eu estava fazendo faculdade, dava tempo, porque eu precisava sair até as quatro, então eu podia entrar às seis, às sete ou às oito. Se você tiver um horário assim, só de manhã ou só à noite, dá pra conciliar.

1 de setembro de 2008

Desviando a atenção

Muito foi falado sobre o caso dos grampos telefônicos ilegais instalados nos aparelhos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Medidas sérias foram tomadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que decidiu afastar temporariamente nesta segunda-feira, 1º, toda a cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O caso é sério. A utilização desses dispositivos é uma atividade ilegal e, segundo o diretor-geral da Agência, Paulo Lacerda, a Abin não instala grampos.

O problema é o foco da história, voltado somente para a questão da instalação dos grampos. Nenhum veículo levantou suspeitas sobre o teor da conversa entre o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

A transcrição de dois minutos do telefonema de 15 de julho mostra Demóstenes pedindo a Gilmar ajuda contra a decisão de um juiz de Roraima, que teria impedido uma testemunha de depor na CPI da Pedofilia, da qual é relator. No diálogo, Mendes agradece ao senador por ter criticado o pedido de impeachment do presidente do STF, feito por um grupo de promotores descontentes com habeas corpus concedido ao banqueiro Daniel Dantas.

Tal troca de favores parece, no mínimo, suspeita, principalmente quando um Senador da República pede para um juiz, na condição de presidente do Supremo Tribunal Federal, intervir na decisão de um colega de magistratura.
Das duas uma: ou a atenção foi muito habilmente desviada pelos envolvidos no proto-escândalo, enganando a todos, ou esse tipo de atividade se tornou tão comum no país que nem os membros da imprensa se sentem incomodados o bastante para criticar.