21 de novembro de 2007

Olé!


Depois de muita provocação o touro não resistiu e investiu contra o vermelho.

A arena estava montada no Gran Salón Doña Inês, no Espacio Riesco. O toureiro começou suas investidas com determinação e, mesmo cercado por uma platéia de cacife internacional, não se deixou intimidar. Foi com um golpe ousado, no entanto, que o matador se deu mal e trouxe à tona toda a ira do touro, que respondeu com um sonoro: “Por que você não cala a boca?”.
Esse foi o cenário do último dia 10 na Cúpula Ibero-Americana, em Santiago, no Chile. Reunida pela 17ª vez desde a sua criação, a Cúpula colocou sob o mesmo teto chefes de Estado e de governo de 22 países, além do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, e o secretário-geral ibero-americano, Enrique Iglesias, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Todos estavam ali presentes para tratar do tema definido para o encontro, Coesão Social.
Em seu discurso de encerramento, porém, o presidente venezuelano Hugo Chávez enveredou por outros caminhos, chegando a referir-se ao ex-presidente espanhol, José María Aznar, como fascista, provocando uma resposta do atual presidente, José Luiz Rodrigues Zapatero. “Quero expressar ao presidente Hugo Chávez que, em uma mesa em que há governos democráticos, tem-se como princípio essencial o respeito. Pode-se estar nos extremos opostos de uma posição ideológica, e não serei eu a estar próximo das idéias de Aznar, mas o ex-presidente Aznar foi eleito pelos espanhóis e exijo esse respeito", disse Zapatero. Em protesto, Chávez disse que "Com a verdade, não ofendo nem temo. O governo da Venezuela se reserva o direito de responder a qualquer agressão". Ao tentar responder à declaração, Zapatero foi interrompido constantemente pelo petropresidente, até que o Rei espanhol interveio na conversa com um sonoro “Por que você não cala a boca?”, dirigido a Hugo Chávez.
Nascido em Roma, em 1938, Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón, foi coroado Rei Juan Carlos I da Espanha em 1975 e é visto por muitos como o grande responsável pela redemocratização da Espanha, que sofreu sob o regime ditatorial do General Francisco Franco por quase quarenta anos. Casado com a Rainha Dona Sofia e acumulando mais de 30 títulos – entre os quais “Conde de Habsburgo”, “Cavaleiro da Ordem de São Xavier” e “Rei de Jerusalém” – Juan Carlos I segue na chefia do Estado espanhol até passar o poder para seu filho, o Príncipe das Astúrias, Filipe.
Já a Cúpula, nasceu em Guadalajara, no México, em 1991 e, segundo o Ministério das Relações Exteriores, “constitui foro de concertação política sobre temas de interesse comum, tendo por base o compromisso com os princípios da democracia representativa e com respeito aos direitos humanos, às liberdades fundamentais e à autodeterminação dos povos”. Sics à parte, a Cúpula vem se reunindo desde julho de 1991, tratando de temas como “Reafirmação da vontade política para ação comum no cenário internacional”, “Governabilidade para uma democracia eficiente e participativa” e, nesse ano, a já mencionada Coesão Social.
Cada reunião da Cúpula resulta em uma declaração, que leva o nome da cidade onde se realizou o encontro. A Declaração de Santiago, porém, foi violentamente soterrada por declarações do presidente Chávez, que insiste em dar momentum às notícias de seu bate-boca e segue, sabe-se lá até quando, lançando mão da postura – indigna de um Chefe de Estado - de “O Rei foi ruim comigo”.